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Estresse social da pandemia afeta pacientes psiquiátricos

Por Franciane Miranda

Um dos males do século, as doenças psicológicas afetam milhares de pessoas em todo mundo. Conhecidas como distúrbios, transtornos, perturbações e disfunções, cada uma afeta o paciente de maneiras diferentes. É importante ficarmos atentos, pois elas nem sempre apresentam sintomas físicos aparentes.

Conversamos com o médico Bruno Vettore, formado em medicina pela UFRJ e especializado em psiquiatra, com 17 anos de experiência clínica, para esclarecer como este período complexo que vivemos pode afetar pacientes com estas doenças.

O psiquiatra explica que quando falamos de desequilíbrio psíquico existe uma grande quantidade de doenças relacionadas e que cada uma delas pode exigir cuidados distintos. Ele reforça a importância do acompanhamento com um especialista. “Entre um portador de hebefrenia e um paciente com TOC [transtorno obsessivo-compulsivo], temos condutas muito diferentes que devem ser sempre discutidas com o profissional”, diz.

Neste momento difícil que vivemos, as pessoas estão sob grande pressão e forte estresse. Isso pode interferir de forma negativa na vida de alguns pacientes que já possuem algum problema psicológico. “Tenho uma paciente esquizofrênica, já bem idosa, que após mais de 10 anos sem crise voltou a ouvir vozes”, detalha o psiquiatra passando outro exemplo: “tenho um paciente autista cuja rotina não mudou em nada, porém se tornou mais agitado e agressivo”.

Bruno ressalta que em alguns casos esta fase que passamos pode afetar mais e desencadear algumas reações. “Toda e qualquer doença, psiquiátrica ou não, tende a piorar com o estresse e a tensão. Então surtos são esperados e, em muitos casos, precisamos ajustar a medicação”. Os cuidados e a família são fundamentais para o enfermo. “Toda pessoa com algum sofrimento psíquico merece apoio, aceitação e acolhimento”, diz o psiquiatra.

Importantes orientações

Psiquiatra Bruno Vettore (Reprodução do Facebook)

Ele destaca que indivíduos que possuem algum tipo de distúrbio e fazem uso de algum medicamento estão mais propícios a desenvolverem crises psicológicas. “Pense em um balde se enchendo de água. Quando o balde enche, temos a crise. Se já existe um sofrimento psicológico, temos um balde que já está com água. Talvez até já esteja à beira de transbordar! Como todos os estressores da epidemia ─ saúde, impacto social e financeiro ─, as chances desse balde transbordar em uma crise são imensas”, afirma.

Bruno explica como devemos agir ao presenciarmos algum destes casos. “Comece sempre com você mesmo. Assim como no avião, coloque a sua máscara de segurança antes de ajudar o outro. Acalme sua respiração, relaxe seus músculos, pense numa música tranquila e positiva que você goste. Aborde a pessoa em crise sempre com acolhimento e respeito. Não é hora para julgar ou ensinar nada, qualquer coisa que você sinta vontade de contar a pessoa, guarde para depois da crise. Ofereça sua ajuda e pergunte em voz baixa: ‘o que eu faço pra lhe ajudar?’”.

Ele prossegue orientando. “Não toque ou abrace antes de perguntar se a pessoa quer, pois pessoas com traumas podem reagir mal a uma abordagem física. Dê espaço para o outro até que você consiga compreendê-lo. Quando conseguir estabelecer uma boa comunicação, pergunte se há alguém, familiar, psicólogo ou médico, que a pessoa queira contactar. Pergunte sempre se a pessoa tem algum remédio para essas situações e se ela tomou algum remédio. Se houver suspeita de uma emergência clínica, como dor no peito que não passa ou alterações de movimentos, leve a pessoa à emergência hospitalar mais próxima”, conclui.

O especialista recomenda que todos devem criar hábitos saudáveis no dia a dia, pois esta prática desenvolve condições para a mente trabalhar melhor. Se possível, escreva um roteiro em um papel e deixe em um lugar visível. “Com a perda da rotina, a gente começa a comprometer os mecanismos que a mente usa para se manter funcional e saudável”. Ele pede para refletirmos que o fundamental não é o que nos acontece, mas “o que você produz a partir disso”.

Apoio familiar

A psicóloga Daniela Generoso, que atende crianças, adolescentes e mulheres vítimas de violência doméstica, fala como os familiares podem ajudar, já que os parentes mais próximos precisam ter paciência, pois muitas vezes a pessoa não aceita que possui algum problema psicológico. “Uma dica é conversar com a pessoa, mostrando os sintomas. Assim fica mais fácil dela se perceber. Mas cada um tem um tempo. Então, se ela estiver em depressão ou ansiedade, acolha a demanda da pauta em questão”, esclarece a profissional.

Superar estes momentos é um desafio enorme, tanto para a pessoa que está doente, quanto para quem convive com ela. Como existe uma enorme quantidade de doenças psicológicas que afetam de várias formas cada indivíduo, o apoio emocional e familiar é importantíssimo. “Estando ao lado, acompanhando para consulta psicológica ou psiquiátrica”, explica Daniela. Ela indica que as pessoas façam exercícios de respiração, pois eles ajudam em nosso bem-estar.

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