Entre as festividades e comemorações da posse do escritor indígena Ailton Krenak na Academia Brasileira de Letras neste mês (5), permanece a questão: quanto tempo ainda até a demarcação das terras indígenas asseguradas na Constituição? Para que a cobrança não pareça totalmente injusta, a demarcação das terras da Aldeia Velha (BA) e as de Cacique Fontoura (MT) foram concluídas na quinta-feira (18).
Contudo, há tempos tal reivindicação figura em pautas de governo e noticiários, se arrastando no Congresso e somente alimentando a mídia. É bem verdade que o governo federal teve sua agenda, não tão inesperadamente, postergada por conflitos fundiários em atividades de garimpo ilegal nas terras indígenas Kayapó e Munduruku (PA) e Sararé (MT), e em gestão de crise de saúde nos territórios Yanomami. No entanto, tudo segue como planejado, ou seja, ao que parece, sem planos para assegurar jurídica e fisicamente os indígenas em políticas públicas de educação e saúde. Para além das questões legais, há aquelas que dizem respeito à certificação de direitos de cidadania e contra a violência simbólica de tentativa de dissolução identitária e étnica em anos de negação histórica de sua soberania cultural. Não precisamos ser especialistas em assuntos indígenas para saber que sua relação com terra se dá não somente como sobrevivência, mas também como modo de vida e de identidade. Até quando vamos aliená-los do que originariamente lhes pertence?