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Familiares sofrem com falta de notícias nos hospitais

UPA da Rua Siqueira Campos, em Copacabana

Por Franciane Miranda

Nos últimos dias os brasileiros enfrentam um crescimento nos números de casos da covid-19. Este aumento tem sobrecarregado os hospitais de todo o país e nos maiores centros urbanos a situação é crítica. O sistema de saúde caminha para o colapso, que vão além da falta de profissionais da saúde, de leitos, com as emergências e as UTI’s chegando ao limite. E os familiares de pacientes internados vivem outro drama: a falta de comunicação sobre o estado de saúde dos parentes.

No dia 10 de abril, o vigia noturno Valdemiro Abreu da Silva foi internado. O seu filho, Natanael do Nascimento Silva, nos conta que seu pai era dedicado ao trabalho, nunca foi de faltar ao emprego e, por isso, trabalhou alguns dias sentindo dores. Um dia antes da sua internação o senhor havia completado 66 anos. Mas o esforçado vigia apresentou uma piora nos sintomas que vinha sentindo. Natanael relata que ficou muito preocupado, pois o pai apresentava dores nas costas e no estômago. Decidiu levá-lo para o médico mais próximo na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Rua Siqueira Campos, localizado em Copacabana.

O jovem nos explica que ao chegar à UPA havia uma tenda onde as equipes estavam separando as pessoas que sentiam algum sintoma da covid-19. Ele lembra que os doentes que não apresentavam problemas ligados ao coronavírus entravam por outro local. Natanael precisou esperar mais de três horas para sair o resultado do exame de sangue que acusou infecção urinária. Mesmo apresentando este problema, Valdemiro foi liberado à noite e, em seguida, saiu direto para o trabalho, que começava às 22h.

Mas o momento difícil estava apenas começando: três dias depois o pai de Natanael começou a sentir falta de ar. A família ficou muito assustada e, na mesma hora, levou ele à mesma UPA. Lá Valdemiro foi levado em uma maca de imediato para uma sala vermelha. O médico que lhe atendeu diagnosticou que sua saturação estava baixa e o internou. Seu quadro era mais complexo, pois ele também tinha outros problemas de saúde como hipertensão e diabetes.

Dura realidade

No dia seguinte, Valdemiro Abreu conseguiu uma vaga no Hospital Regional de Volta Redonda e foi transferido para o local. Neste momento, começou o drama da família para conseguir informações sobre o seu estado de saúde. Natanael nos relatou o quanto foi complicado passar por esta fase sem notícias do seu pai. “Não conversamos com nenhum médico, somente com a assistente social na segunda, quarta e sexta-feira”, detalha.

Triste, Natanael relembra o descaso e afirma que ficaram três dias sem nenhuma notícia do seu querido pai. “Porque não conseguíamos ligar. E quando atendiam, às vezes desligavam na nossa cara”. Ao atender as ligações depois de várias tentativas e muitas dificuldades, a informação sobre o estado de saúde era a mesma. “Grave, porém estável, necessitando de respirador mecânico. Nunca melhorou e nem piorou”, explica.

Ele também deixa claro que nunca falou com nenhum doutor que acompanhava o seu pai, apenas com uma assistente que comunicou sobre o tratamento. “Falaram que estavam dando pra ele cloroquina e hidroxicloroquinina”. Infelizmente, o senhor Valdemiro Abreu não resistiu e faleceu no dia 25 de abril, deixando cinco filhos e uma esposa.

Este a é um exemplo da nossa atual dura realidade. A população, além de sofrer com seus parentes doentes e a falta de estrutura da saúde, precisa também enfrentar mais uma dor: a da falta de notícias.

Fotos: Reproduções

 

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