Dançarino, compositor e precursor do samba carioca, Getúlio Marinho foi um símbolo de elegância e tradição nas origens da cultura popular brasileira.
Getúlio Marinho da Silva, conhecido pelo pseudônimo carinhoso que adotou na vida artística, foi um dos grandes nomes da primeira geração do samba carioca. Criado no ambiente efervescente das casas das tias baianas — como Bebiana, Gracinda, Ciata e Calu Boneca —, ele cresceu entre batuques, fé e dança, tornando-se uma figura essencial na transição entre o samba de roda e o samba urbano do Rio de Janeiro.
Frequentador assíduo dos primeiros ranchos carnavalescos criados por baianos do bairro da Saúde, Getúlio aprendeu a arte dos mestres-sala com o lendário Hilário Jovino Ferreira, o “Lalau de Ouro”. Com o tempo, tornou-se um verdadeiro especialista nessa expressão coreográfica, reconhecido por sua elegância e sobriedade nas apresentações.
Sua trajetória artística começou em 1916, quando participou como dançarino da revista Dança de Velho, encenada no Theatro São José, ao lado de Pepa Delgado, Júlia Martins e Alfredo Silva. A década de 1920 o consagrou também como mestre-sala, figura indispensável nos desfiles e festas populares da época.
Em 1930, Marinho teve sua primeira composição gravada: o samba “Não Quero o Teu Amor”, lançado pela Odeon com o Conjunto Africano. Religioso e ligado à Umbanda, ele conviveu com renomados Pais de Santo — João Alabá, Assumano e Abedé —, de quem recolhia pontos de santos que mais tarde levaria para os discos. Moreira da Silva foi um dos intérpretes que eternizaram algumas dessas canções sagradas no início dos anos 1930.
Versátil, Getúlio compôs sambas, marchas e valsas que seriam gravados por nomes como Francisco Alves, Aurora Miranda, Luís Barbosa, Patrício Teixeira, Jayme Vogeler, J. B. de Carvalho, Orlando Silva e Nelson Gonçalves. Entre seus sucessos estão “Apanhando Papel” (1931), imortalizado por Francisco Alves, e “Pula a Fogueira” (1936), parceria com João Bastos Filho que se tornou um clássico das festas juninas.
Um legado de elegância e ancestralidade
Getúlio Marinho foi mais do que um artista — foi um elo entre a tradição afro-brasileira e a formação do samba carioca. Considerado um dos pioneiros que trouxeram “finesse” ao gênero, sua postura inspirou gerações de sambistas, como Ataulfo Alves e Paulinho da Viola.
Mesmo tendo vivido de forma simples até sua morte, em 1964, seu legado permanece como símbolo de arte, ancestralidade e elegância. O pesquisador Jota Efegê registrou sobre ele:
“Mestre-sala famoso, fiel ao aprendizado em que teve como professor Hilário Jovino Ferreira, Getúlio Marinho sempre impôs presença nos desfiles. Sóbrio nas suas coreografias, sem acrobacias ou exageros, lograva os aplausos do público justamente por essa finesse que o distinguia.”