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Lâminas do Cotidiano: O alucinado Emil Cioran e o terror místico

Um patologista dos afetos como Cioran, está mais preocupado em apreender os sintomas anímicos da “ decomposição da matéria “ do que forjar  etéreas conjecturas como a vontade de potência Nietzscheana ( que Cioran não hesitaria em chamar fuga metafísica ) avessas à concretude dos olhos, nervos e lábios  que conformam o corpo humano , em seu “exílio metafísico” havia um homem como mais de 70 anos,  que tinha passado a vida inteira afirmando que a existência não tinha valor algum e portanto, o melhor a fazer seria  a opção definitiva pelo suicídio.

-Mas não há uma contradição em sua fala? argumentou um jovem interlocutor.

– Como você pode ensinar que o suicídio é a melhor maneira de resolver o mal de existir, se você mesmo tem mais de 70 anos?

E o homem , impassível, respondeu:

– Pois é! Eu sempre soube que a minha missão neste mundo, era ensinar os jovens a importância do suicídio!

Reproduzimos essa “blague” porque ela nos permite fazer uma indagação de todo pertinente ao nosso estudo sobre o sofrimento.

Seria o desespero existencial de Cioran , parecido com aquele do “ professor”?  em outras palavras, seria Cioran um niilista desprovido de quaisquer compromissos éticos? ou mesmo um escritor preocupado apenas em malsinar e descontruir as” conquistas” civilizacional?

A nossa resposta deve ser peremptória, não se trata disso.

Em primeiro lugar, porque Cioran, ao contrário do “cínico” apologeta descrito acima, não pretende ensinar nada a ninguém e portanto, desimcumbe-se prontamente do papel de “pedagogo” da humanidade.

E ademais, o radical pessimismo de Cioran convida-nos tão somente à busca de um estado de consciência lúcido, quer dizer, convida-nos a enxergar (sob o ponto de vista do pensamento-biópsia ) a ubiquidade do mal no mundo  e assim, compreendermos a destrutividade e as ambivalências das  paixões humanas.

As desmesuras do mal – em sua cariz mística- ,  parecem constituir uma importante via de acesso à esta reflexão  iconoclasta.

 

A noção de que a criação – por motivos evidentes – não pode ser considerada boa e portanto, foi engendrada por um demiurgo sádico e cruel (le mauvais Démiurge) parece ter sido, desde a juventude, uma dado primordial na construção da visão de mundo do jovem EMILl CIORAN.

Escrever e venerar não andam juntos quer se queira ou não, falar de Deus é olhá-lo do alto. A escrita é a desforra da criatura e sua resposta a uma criação sabotada.

 

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