Enquanto pessoas comuns estão fadadas às suas imperfeições e erros ao tomarem decisões diárias, alguns cidadãos concebem – inspirados talvez por um romantismo utópico – que seus líderes são super-heróis à prova de faltas e enganos. Não poderiam estar mais longe da verdade: enquanto super-heróis podem ser líderes – mesmo aqueles que são pouco carismáticos –, o contrário não se verifica.
Há poucos dias, Joe Binden, ex-vice-presidente dos EUA, cometeu uma gafe ao fazer uma piada na qual considerava como certo seu favoritismo junto à comunidade negra. Admitindo seu erro, Binden desculpou-se. Quantos políticos assumem seus erros? E quantos podem levar uma nação ao abismo antes que estejam dispostos a admitir seus equívocos em determinada questão?
Nosso país respira o caos de uma pandemia mundial – o segundo país em número de infectados depois dos EUA – e enfrenta o dilema entre salvar vidas e salvar a economia. Nesse ínterim, a Organização Mundial de Saúde suspende o ensaio clínico com hidroxicloroquina e cloroquina para o tratamento de pacientes com covid-19, enquanto o Ministério da Saúde daqui recomenda o medicamento. Cientistas se veem em meio a ameaças, de um lado, e à pressão do governo, de outro, enquanto alguns profissionais da área de comunicação são impedidos de fazerem cobertura jornalística no Palácio da Alvorada.
Contabilizando tudo, chegamos a um resultado negativo em termos de gerenciamento geral da crise, o que evidencia o fato de que houve e ainda há erros a serem admitidos e corrigidos. Logo, não há heróis, senão líderes humanos e falhos.