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Nuvem de gafanhotos é um castigo do capitalismo

Editorial

Uma nuvem de gafanhotos, que devastou plantações no Paraguai e atualmente se concentra na Argentina, pode chegar a regiões agrícolas do Sul do Brasil. A nuvem tem cerca de um km² de área, podendo chegar a 40 milhões de insetos, conforme estimativas de especialistas. De acordo com o governo argentino, eles podem percorrer até 150 km por dia, dependendo da direção dos ventos.

Os insetos têm dizimado plantações de mandioca, milho e cana-de-açúcar nos dois países vizinhos, consumindo diariamente o equivalente ao que um rebanho de duas mil vacas ou 350 mil pessoas comeriam. Apesar da destruição nas plantações e áreas vegetais selvagens, as autoridades argentinas afirmam que os animais não transmitem doenças nem causam lesões aos humanos.

Em janeiro, agricultores do Quênia, Somália e Etiópia também enfrentaram a maior infestação de gafanhotos dos últimos 70 anos. Em maio, foi a vez da praga também atingir regiões na Índia. Segundo o professor Wagner Ribeiro, do Departamento de Geografia e do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), a incidência em diversas partes indica que o fenômeno pode ter relação com a elevação das temperaturas em todo o planeta. Resumindo, seria uma consequência do aquecimento global.

Vivemos um momento de muita dor, sofrimento e mortes devido à pandemia da covid-19, onde a humanidade encontra-se encurralada por um inimigo invisível, porém altamente destruidor. Perplexos quanto a isso, não é difícil imaginar o motivo pelo qual muitos estejam buscando uma explicação religiosa para a atual nuvem de gafanhotos, como se fosse a bíblica Dez Pragas do Egito se repetindo. Assim, seria a mão de Deus a nos castigar novamente.

No entanto, a praga de gafanhotos de agora não é um ato divino, uma punição. Trata-se simplesmente de mais uma consequência do modo predador de exploração capitalista, que destrói o meio ambiente. Somos castigados sim, mas por um sistema econômico que privilegia o lucro em detrimento das esperanças de vida de um povo inteiro e da existência do próprio planeta.

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