Era manhã de CIPAT — a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho — quando subimos ao primeiro andar com rosas nas mãos e vozes alinhadas. Estávamos um trio, convocados pelos diretores não apenas para cantar, mas para tocar corações. A missão era clara: transformar cada setor da empresa em palco de sensibilidade, presença e escuta.
O primeiro passo foi tímido. Os olhares se levantaram das telas com surpresa contida. Começamos a cantar, e junto à melodia, líamos uma breve mensagem sobre cuidado, união e segurança, não só a física, mas também a emocional. Cada pessoa que recebia a rosa parecia ganhar mais que uma flor: era um lembrete de que seu trabalho tem valor, que ela é vista, lembrada.
À medida que subíamos os andares, algo quase mágico acontecia. Os semblantes sérios se afrouxaram. Os braços cruzados se abriam para receber a rosa e, com ela, o gesto simbólico de afeto e reconhecimento. Alguns batiam palmas no ritmo, outros improvisaram batucadas com canetas e mesas. Teve quem cantasse junto. E, num clima que beirava o improvável, alguns diretores arriscaram passos de dança com as funcionárias, arrancando risos e aplausos que ecoaram pelos corredores.
As músicas que escolhemos iam daquelas mais animadas e motivacionais, que acendiam a energia do ambiente, até as mais emotivas, que abriam espaço para o silêncio interior e um certo brilho nos olhos. Filmamos tudo. As imagens seriam enviadas para todas as unidades da empresa, espalhadas pelo país, não como um registro qualquer, mas como memória de algo vivo, humano, essencial.
Em um ambiente corporativo, a rotina, os prazos e as metas muitas vezes nos afastam de nós mesmos. Mas naquele dia, entre um corredor e outro, entre um agudo e um acorde, experimentamos outra sintonia. A música que percorreu os andares não era apenas som, era ponte. E as palavras que falávamos sobre cuidado e segurança não eram apenas lembretes técnicos, mas abraços disfarçados, toques sutis em lugares esquecidos dentro de nós..
A serenata quebrou muros invisíveis. Lembrou que prevenção também é olhar nos olhos. Que segurança também é reconhecer o outro como parte do mesmo todo. Que a vida, mesmo no trabalho, precisa de cor, afeto e pausa.
No fim, algo dentro de todos nós havia mudado. Era como se a música tivesse nos afetado por dentro. Como se, por instantes, todos estivéssemos na mesma nota, cantando, sorrindo, sentindo. E quando deixamos o último andar, não fomos nós que terminamos a serenata… foi ela que ficou, ecoando em cada mesa, em cada gesto, em cada coração que, por um momento, lembrou do mais importante: somos humanos antes de sermos crachás.