A extração e queima de carvão mineral têm seus dias contados. A COP26, a maior e mais importante conferência sobre o clima no planeta, aponta o carvão mineral, um tipo de combustível fóssil, como um dos principais responsáveis pelo aquecimento global – ainda que a maior parte da emissão de gases venha do desmatamento e da agropecuária. O que acontece quando toda uma cidade tem sua economia centrada na indústria carbonífera? E o que dizer do compromisso global assumido para a redução do efeito estufa na Conferência das Nações Unidas, em Paris (2015)?
A cidade de Criciúma (SC), conhecida como a capital do carvão, e seu entorno enquadram-se nesse perfil. Com um sindicato forte, os trabalhadores do setor já anunciam, com uma faixa na entrada que diz “O Complexo não pode parar”, sua posição diante do dilema do aquecimento global: a produção industrial não pode parar. Naturalmente, políticos e empresários do setor – e outros como rádios e jornais ligados ao setor – olham com desconfiança e chegam a duvidar dos impactos do efeito estufa, alegando que, mesmo entre cientistas, não há consenso e/ou estudos conclusivos sobre tais efeitos no planeta. O fato é que todos temem o desemprego e o colapso da economia local, o que constitui uma preocupação legítima. Também é fato que, no entorno da cidade, o meio ambiente mostra sinas de degradação com paisagens desérticas e rios de cor amarelada. Doenças respiratórias, como a pneumoconiose, se tornou comum entre aqueles que trabalham com o carvão. Qual o preço a pagar, tanto para a saúde do meio ambiente quanto para a dos cidadãos, na manutenção de tais empregos? Obviamente, isso constitui uma pergunta retórica. Não há solução fácil. Não podemos continuar sacrificando o planeta, como também não podemos condenar a população a uma súbita recessão econômica. Talvez, a solução venha pelo viés da transição da energia suja para outra mais ecologicamente sustentável. Dentro dessa perspectiva, alguns acreditam ser possível o desenvolvimento de tecnologias que possam limpar o carvão, fornecendo uma sobrevida para a economia baseada no carvão mineral.
Qualquer que seja o resultado, parece que virá a longo prazo. Sabemos que o objetivo da COP26 é a eliminação do carvão, mas quanto o planeta terá de esperar até o desembaraçar das peias dos interesses político-econômicos e dos subsídios para combustíveis fosseis? Enquanto isso, talvez possamos anunciar uma posição que beneficiaria a todos nós universalmente, independente de nossa posição ideológica, social ou sindical, qual seja: “O Planeta não pode parar”, pois precisamos dele para viver.