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Opinião: Rubens Paiva, Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, Manoel Fiel Filho e Vladimir Herzog

Post Jornal DR1 2025

Assisti ao filme “Ainda Estou Aqui” dirigido por Walter Salles. Magnífico, destaque para atuação ímpar de Fernanda Torres, premiada com o Globo de Ouro. Bem merecido, o filme foi indicado à principal categoria do Oscar 2025, de Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz Fernanda Torres. Para quem ainda não viu, recomendo.

Em resumo, o filme aborda a atuação dos Órgãos de repressão durante os “anos de chumbo”, (1964-1980). Centenas de opositores do regime foram torturados e mortos.

Ficou evidente que para se concretizar um golpe de estado, os golpistas tem que estar com o apoio das forças armadas.  E foi o que aconteceu em 64, com os milicos nas ruas, armados até os dentes, com os blindados, tanques de guerra direcionados para a população civil, iniciando uma violenta repressão que atingiu setores da esquerda.

Foram abertos centenas de Inquéritos Policiais-Militares com o objetivo de apurar atividades consideradas subversivas. Milhares de pessoas foram atingidas em seus direitos: parlamentares tiveram mandatos cassados, cidadãos tiveram direitos políticos suspensos. Esse período ficou marcado como um regime repressor que perseguia cidadãos que se posicionavam contra o governo.

Centenas foram às vítimas fatais do regime, como Rubens Paiva, engenheiro civil e ex-deputado federal. Não esqueçamos de Aluízio Palhano Pedreira Ferreira 1922-1971, nascido no município de Pirajuí (SP), mudou-se para Niterói depois da morte do pai. Formou-se em Direito pela UFF, e aos 21 anos, foi aprovado em concurso para o Banco do Brasil, iniciando suas atividades políticas, como sindicalista, tendo sido duas vezes presidente do Sindicato dos Bancários. Com o golpe de 1964 foi demitido do BB e foi torturado ininterruptamente até a morte pelos órgão de repressão – DOI-CODI, CENIMAR, e ”Casa da Morte” em Petrópolis.

Não menos diferente, aconteceu com Manoel Fiel Filho, nascido em 7 de janeiro de 1927, em Quebrangulo (AL). Na década de 1950 mudou-se para São Paulo onde atuou como padeiro, cobrador de ônibus e nos últimos anos como operário metalúrgico prensista na empresa Metal Arte, na qual permaneceu por 19 anos. No Partido Comunista Brasileiro (PCB) era responsável pela organização do partido entre os operários das fábricas no Mooca. Às 12h do dia 16 de janeiro de 1976, Manoel foi levado da fábrica onde trabalhava por homens se passando por funcionários da prefeitura ao Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI).

Agentes da repressão vasculharam sua casa e, como nada poderia incriminá-lo, disseram a sua esposa que ele seria liberado no dia seguinte. Em 19 de janeiro, o comando do II Exército divulgou uma nota informando que Manoel fora encontrado morto às 13h do dia 17, enforcado com suas próprias meias em uma das celas. Manoel integrava o quadro dos que foram assassinados pela Operação Radar, desencadeada pelo DOI-CODI do II Exército entre março de 1974 e janeiro de 1976 com vistas a dizimar a direção do PCB.

Vladimir Herzog foi jornalista, professor e cineasta. Nasceu em 27 de junho de 1937 na cidade de Osijsk, na Croácia, morou na Itália e emigrou para o Brasil em 1942. Foi criado em SP, e naturalizou-se brasileiro. Estudou Filosofia na USP e iniciou a carreira de jornalista em 1959, no jornal O Estado de S. Paulo. Em dia 25 de outubro de 1975. foi chamado para prestar esclarecimentos na sede do DOI-CODI sobre suas ligações com o PCB. Foi torturado e assassinado. A versão oficial apresentada pelos militares, foi a de que teria se enforcado com um cinto, e divulgaram a foto do suposto enforcamento.

60 anos passaram e imaginávamos que “ditadura nunca mais”. Nos enganamos, pois mesmo sem tanques na rua, a ditadura está aí. Só que dessa vez os tanques foram substituídos pelas canetas dos 11 ministros supremos, que estão impondo o terror a todos aqueles que ousam se opor ao atual regime ditatorial.

As centenas de opositores baderneiros encarcerados pela tirania suprema, não merecem anistia. Anistia como em 79, é para presos políticos. Os baderneiros do 8 de janeiro merecem o perdão. Sim deveriam ser todos perdoados com um pedido de desculpas dos atuais mandantes, pela violência que estão sofrendo.

Já dizia Rui Barbosa: “A pior ditadura é a do Poder Judiciário, contra ela, não há a quem recorrer”. Liberdades para todos presos.

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