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Parte I – “Revertere ad locum tuum”?

– Conte-me! Vamos, não seja estúpido, seu estado está atrapalhando a nós todos.  Precisamos recontinuar o jogo! – disse-me um dos sujeitos que vi após o incidente que me aconteceu.  Ainda atônito, dominado por um pavor furioso e morboso, quis relatar ao homem cuja face não pôde ser fixada pela memória a seguinte história…

Estava com minha amiga passeando quase infantilmente num mirante, viemos a este lugar em férias, era a primeira vez que estávamos aqui e, a conselho  de um amigo em comum, após nos perdermos várias vezes, conseguimos, através de quatro fatigantes horas de caminhada, chegar ao local que nos fora veementemente indicado como uma das paisagens mais belas da região.

Apreciávamos uma vista realmente bela, quando avistei uma falha na cerca, o que relatei a ela, sugerindo que fossemos verificar o que havia lá; ela retrucou que não era preciso, estava com medo, pois a altura era considerável e sofria amiúde de acrofobia.  Disse-lhe então que iria sozinho, seria rápido, pegaria aquela flor lilás que brotava na terra logo abaixo da cerca.  Com cuidado fui atravessando o penoso declive, afastando galhos e tomando precauções necessárias, pois um escorregão poderia levar-me mata abaixo.

Já com a dita flor na mão, olhei para cima querendo mostrá-la, porém a distância não me permitia ainda vê-la. Dei alguns passos para trás e, quando avistei parte de sua cabeça, pisei em algo escorregadio e, ao mesmo tempo, ouvi o grito desesperado de minha amiga chamando o meu nome e fui deixando de ouví-lo conforme ia deslizando pela ladeira íngreme de arbustos e folhas numa velocidade vertiginosa.

Devo ter rolado uns dez metros pelo morro e nada me indicava que iria parar, pois não havia, por azar meu, nenhuma árvore cujo porte impedisse a minha infeliz queda.  

Santiâmen contundente e imperceptível; pude divisar um enorme despenhadeiro. Sua extremidade era de pedra, onde tentei desesperadamente me agarrar, usando de todas as forças de que dispunham.  A tentativa parecia inútil, pois todo o meu corpo estava pendente, mas sentia que poderia agüentar ainda poucos e sofríveis minutos. Foi quando olhei para baixo e, há muitos metros, obtive uma visão aterradora que jamais será apagada da minha memória nesta vida: vi uma montanha de corpos humanos enorme, estática, arranjada como um paralelepípedo imperfeito, estranhamente organizada. Certamente estavam mortos, pensei, e não à toa, pois o odor nauseabundo já me envolvia no nojo e no medo extremos.  Amplamente enlouquecido de pavor, retornei os olhos para minhas mãos débeis, como que suplicando a elas que impedissem imperativamente o acidente iminente.

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