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Poluição: o segundo inimigo invisível a ser combatido

A propagação do coronavírus trouxe à tona um inimigo invisível letal. Mas uma segunda ameaça, muitas vezes impossível de ser vista à olho nu, tem consequências tão graves quanto as de uma pandemia. A poluição emitida diariamente pelos carros, ônibus e caminhões mata anualmente 7 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com a meteorologista, Josélia Pegorim, parece controverso, mas a poeira da poluição em suspensão serve de embrião para formar as gotas de chuva. “As gotículas de vapor de água se depositam sobre os grãos de poeira, de areia ou de sal, no caso de nuvens que se formam no mar, e isto permite a formação e crescimento mais rápido das gotas de chuva”.

 

Josélia Pegorim (Foto: Reprodução)

Josélia lembra ainda que o que acontece em um lugar pode afetar outro, mesmo que ele esteja localizado em um lugar distante do globo. “Há estudos que provam que os grãos de areia que saem do deserto do Saara, e viajam com os ventos da altas camadas da atmosfera, chegam sobre a Amazônia e ajudam a formar as nuvens de chuva por lá.

Além disso, conforme explica, o nascer e pôr do sol que temos em alguns dias, com cores avermelhadas que enchem os olhos, são resultantes da interação da luz do sol com o ar mais carregado de poluição que fica na parte baixa da atmosfera.”

Poluição mata

Isso pode até soar bom de alguma forma, não fosse o fato de que no Brasil são registradas 2.500 mortes prematuras anuais, conforme dados do International Council on Clean Transportation (ICCT), em razão da poluição. Os danos à saúde são irreversíveis. Não há beleza que traga de volta alguém que se foi por respirar um ar sujo.

Não é novidade que a qualidade do ar que respiramos tem impactos diretos na nossa saúde. Nem que os veículos que nos transportam de um lugar para o outro nas cidades são os maiores emissores de poluentes na atmosfera. No Brasil, a maior parte municípios ultrapassa os limites de poluição recomendados pela Organização Mundial da Saúde e essa é causa de não só milhares de mortes prematuras, mas agravante para diversas doenças respiratórias, como a própria covid-19. Alguns estudos chegam a afirmar que a taxa de letalidade da doença causada pelo novo coronavírus é maior entre as populações mais expostas a esses poluentes.

 

Foto: Reprodução

Evitar, trocar, melhorar

Entre os especialistas no assunto, três grandes estratégias são a chave para reduzir as emissões e, consequentemente, melhorar a qualidade do ar. Elas são representadas pela sigla ASI, do inglês: Avoid (evitar), Shift (trocar) e Improve (melhorar). Em resumo, o que eles querem dizer com isso é que precisamos mudar a forma como nos locomovemos – optando por bicicletas ou transporte público, por exemplo – e melhorar os nossos veículos, tornando-os menos poluentes. Nesse sentido, a regulação tem um papel importante, pois é ela que orienta as mudanças na indústria e, consequentemente, os nossos hábitos de consumo.

Mudanças nas normas

As atuais normas asseguram que poderemos respirar melhor a partir de 2022, prazo para entrar em vigor a próxima fase do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que exige melhorias no padrão de emissão dos veículos pesados, os que mais poluem. Passar para essa fase – chamada de P-8 e equivalente ao padrão internacional Euro VI – é urgente porque já estamos atrasados em relação aos principais mercados de automóveis do mundo. E, claro, porque a poluição afeta diretamente a saúde de todos e ainda modifica o clima do planeta.

Apesar disso, alguns representantes da indústria automobilística fazem pressão para adiar o prazo previamente acordado entre as empresas montadoras e o Governo Federal, argumentando que a crise provocada pela pandemia tem impactado o setor. Como isso te afeta? De várias formas.

Cada dólar investido nessa tecnologia geraria 11 dólares de benefícios, contabilizados a partir da redução dos gastos com saúde pública. A estimativa é do ICCT (por nome completo), uma organização que fornece análises técnicas e científicas aos reguladores ambientais. Além disso, os efeitos à saúde não duram apenas três anos do adiamento, que é o pedido das montadoras, mas mais de 30 anos – tempo de vida útil de um caminhão – com veículos de tecnologia defasada circulando nesse tempo todo.

Ainda conforme a organização, os veículos pesados (caminhões e ônibus) representam 5% da frota brasileira, mas, por poluírem mais e percorrerem distância maiores, são responsáveis por mais de 80% das emissões de partículas poluentes no país. A expectativa é que a nova frota exigida pela regulação consiga reduzir essas emissões em 90%. Bom para a qualidade do ar, para a saúde pública brasileira e para o clima.

 

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