Jornal DR1

Princípios seculares e extremismo islâmico

A morte de três pessoas dentro de uma igreja (29/10), uma delas decapitada, por um suposto terrorista, na cidade de Nice, reacendeu a polêmica em torno do fundamentalismo islâmico e do secularismo na França, a qual tem sua origem no envolvimento deste país na guerra civil libanesa nos anos 80.

Diante do ataque, o presidente Emmanuel Macron anunciou estado de emergência e reafirmou direitos do Estado democrático, como liberdade de expressão e de consciência e, até mesmo, o direito à blasfêmia.

Em menos de duas semanas anteriores ao atentado, um professor de uma escola tinha sido decapitado por mostrar uma caricatura do Profeta Muhammed, publicada por Charlie Hebdo (2015) em uma aula sobre liberdade de opinião. Isso porque os muçulmanos proíbem qualquer representação física do profeta.

Para além dos fatos que atestam incontroversa violência, ficam questões de difícil discussão, como as que se referem à liberdade de professar religião e de expressar opinião e crenças, bem como o respeito a tais posições.

Liberdade e respeito são dois pilares da vida moral de todo e qualquer indivíduo e trazem em seu bojo outras questões que denotam aspectos não somente para o exercício da cidadania enquanto seres políticos que somos, mas também para o exercício do espírito humano enquanto seres racionais.

Assim, se por um lado temos a capacidade de expressar nossas paixões, sentimentos e atitudes  como amor/ódio, vergonha/indignação e respeito/desrespeito, por exemplo,com relação a pessoas, objetos, ideias e até mesmo intuições,  por outro trazemos a capacidade de conceber conceitos como liberdade e responsabilidade com relação às nossas ações. Isso posto, ao considerarmos os dois lados da contenda, secularistas e extremistas muçulmanos, verificamos que  nenhum dos dois lados se encontra isento de tais capacidades ou impedido de seu exercício.

O que falta então na geopolítica e na ética mundial? Eu não saberia dizer. Mas, algo me parecer essencial para fundar as bases da solidariedade humana: boa vontade para entender e aceitar os diferentes pontos de vista e, nesse caso, em particular, para entender que, para além das disputas pelo poder na esfera da política e da religião, existe algo mais importante que é o valor da vida de um ser  humano.

Mônica Freitas

Bacharel em Letras, professora de inglês e mestre em Filosofia
(PR2-55697)
profmonica_highkeve.com.br

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