Jornal DR1

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Edições impressas

À luz da palavra

Foto: Reprodução

Então, as palavras se contorceram violentamente até a plenitude do êxtase febril e, inebriadas pelo desejo, perderam-se pelas estradas feitas de cascalho esbatido que iam culminar na parte mais elevada da cidade que fica ao sul da Patagônia. Para lá singrou o meu pensamento, voejando através da Cordilheira dos Andes, acompanhado por um condor com… Continue a ler À luz da palavra

Depois não diga que eu não avisei

Atenção, perigo! Muito perigo: Homens egocêntricos. Mulheres ardilosas e manipuladoras. Gente viciada em jogos de azar. O diabo escapadiço que vive na Tasmânia. Sexo selvagem depois dos 78 anos. Ruas paulistanas pelas madrugadas afora. Praias longínquas e desertas ao norte de Varadero em Cuba. Abacaxi com amendoim na sobremesa de sexta-feira à noite. Lentes de… Continue a ler Depois não diga que eu não avisei

Justo agora

Justo agora que você decidiu ir embora. Justo agora que eu planejei renovar o guarda-roupa e deixar de fumar. Justo agora que quase me desapaixonei por completo, como um torrão de açúcar imerso em café expresso. Justo agora que você pintou as unhas da mão de cor de renda, ou seria francesinha? Justo agora que… Continue a ler Justo agora

O olhar do desejo

Foto: Reprodução

Roberta entrou com o peito estufado e a cabeça erguida, como era o seu jeito de ser e sentou-se com delicadeza no pequeno sofá da sala de espera. A secretária do Dr. Osvaldo já havia dito que ele, infelizmente, se atrasaria para a consulta agendada e, portanto, a espera seria longa e monótona. Esta não… Continue a ler O olhar do desejo

A filosofia teândrica da bondade

Por que as pessoas boas, ao longo dos séculos, têm sido invariavelmente humilhadas e rejeitadas pela sociedade e tratadas como ingênuas ou fracas? A única explicação plausível, ensina-nos a filosofia teândrica de jaez buberiano, parece ser esta: pessoas boas vieram de outro mundo e guardam, nos gestos e nas palavras, a centelha do amor gratuito… Continue a ler A filosofia teândrica da bondade

Como um cão em chamas

A dor era intensa e parecia que um falcão faminto devorava suas entranhas. Então, dirigiu-se ao hospital imenso, de mármore branco, alto como uma montanha nevada. O trâmite na recepção foi surpreendentemente ligeiro e recomendou-se como prevenção, a imediata internação. O quarto era o 666 e tinha um aspecto asséptico, limpo, com apenas uma cama… Continue a ler Como um cão em chamas

Lágrimas Amargas de Helena Von Prass

A médica veterinária Helena Von Prass já tinha passado por poucas e boas nesta vida agridoce que notabiliza amiúde a classe média brasileira. O pai italiano havia sido um homem sisudo e violento que, não raras vezes, ameaçava a menina com gestos ríspidos e palavras tonitruantes que demonstravam, acima de tudo, a personalidade de alguém… Continue a ler Lágrimas Amargas de Helena Von Prass

O grande dia

Todos estão se preparando para o grande dia. No condomínio luxuoso do Rio de Janeiro, o homem pede à esposa a sofisticada abotoadura Mont Blanc usada somente em ocasiões especialíssimas, engalanadas, e ela por sua vez, dirige-se ao esposo, pedindo-lhe para abotoar o vestido dourado desde a parte baixa das costas brancas e ossudas até… Continue a ler O grande dia

Seu João

Foto: Pixabay

Seu João era um homem bastante frágil fisicamente, mas do alto dos seus 1,60 m de altura, mantinha o semblante incrivelmente sereno, em face das mais variadas contingências que a vida lhe impusera ao longo dos anos, sobretudo no enfrentamento estoico quando da morte precoce e dolorosa da esposa, Ana Cecília.  O humilde João teve… Continue a ler Seu João

O homem que escolheu viver dentro de uma caixa de papelão azul claro

A caixa de papelão azul claro tinha pelo menos o tamanho do estádio do Maracanã e estava localizada bem no centro da consciência de nosso herói desapontado. Ele tomou distância como se fosse o próprio Tímon criado por Shakespeare, ajeitou o cabelo ralo, passou a língua nos lábios ressecados e… tibum!  Mergulhou para dentro de… Continue a ler O homem que escolheu viver dentro de uma caixa de papelão azul claro