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Tiros em senador ilustram tensão crescente entre PM e governo do Ceará

O dramático episódio envolvendo o senador Cid Gomes (PDT-CE), baleado na quarta-feira (19) ao avançar com uma retroescavadeira contra o portão de um quartel tomado por policiais amotinados, é o capítulo mais violento de uma escalada de tensão entre a Polícia Militar e o governo do estado do Ceará nos últimos meses.

A tentativa de invasão do quartel aconteceu ao fim de uma carreata de Cid por Sobral, reduto do clã Ferreira Gomes e cidade particularmente afetada pelo motim dos policiais. O senador levou dois tiros – um na clavícula e outro no pulmão. O último boletim médico divulgado pelo Hospital do Coração afirma que o estado de saúde de Gomes é estável e que não há risco de morte.

Após o episódio, o ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro autorizou o envio da Força Nacional de Segurança Pública “para colaborar com as forças de segurança estaduais na garantia da lei e da ordem”.

A paralisação da categoria remonta a dezembro do ano passado, quando policias e bombeiros militares ocuparam as galerias da Assembleia Legislativa do Ceará reivindicando um reajuste salarial. “Se não melhorar, a polícia vai parar”, gritavam os manifestantes. O governador Camilo Santana (PT) prometeu, então, enviar uma proposta de reestruturação de carreira, anunciada no fim de janeiro deste ano. De acordo com a proposta do governo, os salários policiais militares e civis, bombeiros e peritos forenses seriam aumentados, progressivamente até 2022, de R$ 3,2 mil para R$ 4,2 mil.

Diante da insatisfação da categoria, o Executivo estadual aumentou a proposta para R$ 4,5 mil, mantendo os reajustes progressivos até 2022. No dia 13 de fevereiro, o governo anunciou o acordo com os militares, mas um grupo ligado a uma associação da categoria se manteve insatisfeito. Com a iminência de uma greve, o Ministério Público do Ceará pediu à Justiça que decretasse a ilegalidade dos motins policiais, sob pena de aplicação de multas às associações que apoiassem o movimento.

Apesar da decisão judicial, a paralisação foi iniciada na terça-feira, dia 18. Os atos, que vão desde o esvaziamento de pneus de viaturas até a retirada de circulação de veículos oficiais, são classificados pela Secretária de Segurança Pública do estado como “vandalismo” e “motim”. Na quarta-feira, antes de Cid Gomes ser baleado, homens encapuzados em carros da Polícia Militar ordenaram que comerciantes do centro de Sobral baixassem as portas – algumas lojas só voltaram a abrir com a intervenção da Polícia Civil e da Guarda Municipal.

Histórico de reivindicação

Esta não é a primeira paralisação dos militares no Ceará. Entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012, durante o governo de Cid Gomes, a categoria ficou em greve por seis dias, reivindicando aumento salarial. A mobilização ficou marcada pela escalada da violência, com diversos episódios de assaltos, arrastões e depredação do patrimônio público. Nas redes sociais, circulavam vídeos de motociclistas encapuzados realizando crimes. Na época, assim como desta vez, a Força Nacional de Segurança Pública foi enviada ao estado.

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