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Trump com covid-19: por que a saída do hospital não esclarece dúvidas sobre a saúde do presidente dos EUA

Diagnosticado com covid-19, o presidente americano Donald Trump deixou por volta de 19h30 (horário de Brasília) desta segunda-feira (05/10) o hospital militar Walter Reed, na região da capital, Washington D.C.

Ele agora seguirá tratamento na Casa Branca, de onde apareceu tirando sua máscara e acenando logo após a alta. Após a volta à Casa Branca, sua conta no Twitter postou um vídeo com trilha sonora impactante e imagens de seu helicóptero voltando do hospital.

Mais cedo na segunda-feira, ele escreveu: “Não sintam medo da covid-19. Não a deixem dominar suas vidas”.

Apesar da segurança com que Trump tenta anunciar sua saída do hospital, as reais condições de saúde do presidente Trump ainda são um mistério desde que anunciou o diagnóstico, na madrugada de sexta-feira (02/10).

Registros do momento em que ele tira a máscara na Casa Branca para posar para as câmeras, por exemplo, têm alimentado especulações entre profissionais de saúde sobre uma suposta dificuldade de respirar — nos últimos dias, Trump apresentou sintomas graves de covid-19, como febre alta e quedas de oxigenação no sangue que o obrigaram a receber oxigênio suplementar.

Outros dois episódios ao longo do período em que ele ficou internado ampliaram as suspeitas sobre o quadro de saúde dele.

Segundo o jornal The Washington Post, especialistas em edição de vídeo apontaram que a Casa Branca usou efeitos em um vídeo de Trump gravado no hospital para esconder uma tosse dele e simular que ele falou quatro minutos sem cortes. O veículo também afirmou que duas fotos divulgadas de Trump em salas e roupas diferentes do hospital foram feitas num intervalo de apenas dez minutos. Em uma delas, inclusive, o mandatário parece assinar apenas um papel em branco.

Além disso, diferentes fontes da Casa Branca deram versões conflitantes sobre o estado de saúde do mandatário ou afirmaram coisas que as imagens de Trump não corroboravam.

Ainda na sexta, quando ele foi levado ao hospital, a Casa Branca informou que a medida era resultado de uma “abundância de precauções”.

Conley, o médico do presidente, afirmou que Trump estava bem disposto. Os sintomas seriam leves. No entanto, em um vídeo em que falava à nação na sexta, minutos antes de tomar o helicóptero para o hospital, ele aparecia diante das câmeras visivelmente abatido, pálido e cansado, o que contrariava a narrativa oficial.

No sábado de manhã, Conley se recusou a informar sobre febre ou necessidade de oxigênio suplementar para Trump e afirmou que o presidente estava “indo muito bem”.

Em uma entrevista confusa e tensa, disse que o diagnóstico havia sido dado 72 horas antes daquele momento, adiantando em quase 36 horas a descoberta da enfermidade em relação ao anúncio do teste positivo de Trump para covid-19. Horas mais tarde, em nota, o médico afirmou que se confundiu nas datas e queria falar em “dia 3” e não em “72 horas”.

Diante das palavras dos profissionais médicos, Mark Meadows, chefe de gabinete da Casa Branca, procurou os repórteres para dizer exatamente o contrário do que tinha sido dito por Conley minutos antes.

Segundo Meadows, “os sinais vitais do presidente nas últimas 24 horas eram preocupantes” e o caminho para uma recuperação completa ainda não estava pavimentado, as próximas 48 horas “seriam críticas”. Meadows pretendia fazer as declarações à imprensa sem se identificar, para não enfurecer Trump, que havia orientado sua equipe a não abrir detalhes sobre seu real estado. Mas uma câmera de TV ligada transmitiu ao vivo as palavras de Meadows via internet.

Isso forçou o médico Conley a rever suas afirmações.

Na manhã de domingo, ele admitiu que o presidente teve “febre alta” e ao menos duas quedas de saturação, com necessidade de oxigênio extra. E anunciou que Trump havia iniciado o tratamento com o corticóide dexametasona, usado apenas em casos graves já que atua como um imunossupressor e pode piorar a condição de pacientes com sintomas leves.

De acordo com o médico, sua intenção inicial não era compartilhar informação falsa, mas disseminar uma atitude “otimista” em relação ao prognóstico de seu paciente. Ele, no entanto, se recusou a informar as condições dos pulmões do presidente e se ele teria desenvolvido pneumonia em decorrência do vírus.

Visivelmente mais disposto pelos vídeos que compartilhou e pela frequência com que fazia postagens em suas redes sociais, Trump chegou a dar uma volta de carro no entorno do hospital no fim da tarde de domingo, para acenar para seus apoiadores que faziam vigília no local.

A melhora do presidente veio acompanhada da pressão dele para ser liberado do hospital e retomar sua campanha à reeleição, a 29 dias do pleito. Além de um alegado tédio, Trump viu surgirem duas pesquisas nacionais no domingo que mostravam uma ampliação da margem de vantagem de seu rival Joe Biden sobre ele, de sete para dez pontos percentuais.

É nesse contexto que a alta acontece nesta segunda. Segundo Conley, Trump pode voltar para a Casa Branca porque não apresentou febre nas últimas 72 horas e estava mantendo bons níveis de oxigenação.

Mas o médico afirmou que o presidente será acompanhado 24 horas por dia por uma equipe de saúde em sua residência oficial. E apelou para uma lei de proteção de informações dos pacientes para não comentar outros detalhes sobre a situação do presidente. Para os americanos, ficam as palavras de Trump (“me sinto melhor do que há 20 anos”), e a expectativa do que verão nos próximos dias.

“Não sintam medo da covid-19. Não a deixem dominar suas vidas.”

Alvo de severas críticas de especialistas em saúde, esse post publicado pelo presidente no Twitter é enviado a uma população severamente atingida pela pandemia e que já perdeu quase 210 mil pessoas para o novo coronavírus, quatro vezes mais mortes do que a Guerra do Vietnã provocou.

“Ou… não sinta medo do coronavírus se você é o presidente dos Estados Unidos com acesso aos melhores cuidados, remédios e tratamentos experimentais”, comentou Dana Bash, correspondente de política da CNN em Washington D.C.

Em seu tratamento até o momento, Trump recebeu dois tipos de anticorpos monoclonais experimentais, o antiviral remdesivir e o corticoide dexametasona, usado apenas em casos graves de covid-19. Ele também precisou de oxigênio suplementar.

O time de profissionais da saúde responsáveis pela atenção a Trump contava com 13 médicos e enfermeiros, liderados por Sean Conley, um médico oficial da Marinha responsável pela atenção primária ao presidente.

Além das drogas experimentais a que teve acesso e da possibilidade de ser levado de helicóptero ao hospital depois de dois incidentes de queda de saturação sanguínea na sexta-feira (02/10), Trump ficou instalado em um espaçoso apartamento do hospital, com vários ambientes, e equipado com cama de casal, mesa de jantar, poltronas de couro e escrivaninha para trabalho.

Nada parecido com o leito composto por maca e aparador, apartado dos demais por paredes de lençóis, em grandes enfermarias hospitalares, que boa parte dos 7,3 milhões de pacientes com covid-19 nos EUA precisou enfrentar.

Ao jornal The Washington Post, Jeanne Marrazzo, especialista em doenças infecciosas da Universidade do Alabama, afirmou que a situação privilegiada do presidente e de outros pacientes com alto status social “refletem as desigualdades inerentes ao nosso sistema de saúde”.

“Sabemos que os VIPs (Very Important People, ou Pessoas Muito Importantes, na sigla em inglês) recebem atendimento extraordinário — nosso sistema de saúde já distingue as pessoas consideradas merecedoras do mais alto nível de atendimento, e esse é o fato e a realidade em nossa sociedade”, afirmou.

Mais de 10 pessoas próximas infectadas

A primeira-dama, Melania Trump, também recebeu diagnóstico positivo na última quinta.

Ela continua na Casa Branca e, segundo os médicos do casal, está “indo muito bem”.

Nos últimos dias, mais de 10 pessoas próximas ao presidente foram diagnosticadas com covid-19. Entre elas estão o assistente pessoal de Trump, Nick Luna, seu coordenador de campanha, Bill Stepien, e seu conselheiro de campanha, o ex-governador Chris Christie.

Nesta segunda (05/10), a secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, informou pelo Twitter também ter testado positivo para a doença.

O candidato democrata à presidência dos EUA, Joe Biden, foi testado duas vezes desde o anúncio de Trump, com diagnóstico negativo em ambas as ocasiões. Eles estiveram juntos na última terça (29/09), no primeiro debate da corrida presidencial.

Com informações: BBC

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