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Um ato de cidadania

O período da pandemia da Covid trouxe muitas perdas e lutos. Além das vítimas oriundas do vírus, muitas outras mortes vieram a reboque. Os óbitos na lista de espera por transplantes, por exemplo, cresceram assustadoramente, totalizando 4, 2 mil vidas perdidas. Isso sem considerar o número de desistentes – 7, 1 mil de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos – e os pacientes em hemodiálise que ficaram vulneráveis durante a pandemia, os quais certamente poderiam facilmente somar valores mórbidos à lista. Mas nem tudo é por conta da pandemia. Embora a superlotação de leitos e as restrições sanitárias tivessem contribuído para uma redução no número de transplantes, a recusa familiar continua sendo um dos fatores determinantes para o crescente aumento da mortalidade na lista de espera por órgãos.

No Brasil, há somente 15 doadores para cada 1 milhão de habitantes. Por que tão poucos doadores? Pacientes com morte cerebral e prontos para o transplante são, em sua grande maioria, recusados para doação de órgãos pelos familiares. Na maior parte dos casos, a falta de informação da família sobre o que seja morte cerebral e a desconfiança no sistema de saúde contribuem para sua decisão. Junte-se a isso, nossa própria falta de informação ou desinformação sobre a questão da doação de órgãos. Em alguns países da Europa, existe uma lei que se aplica a todos os cidadãos como doadores em potencial, exceto para aqueles que se oponham à doação em vida junto ao testemunho de seus familiares. Acredito que muito de nós, brasileiros, estaríamos mais dispostos à doação caso tivéssemos acesso a informações mais acuradas sobre o assunto. Acredito também que o que nos inibe a vontade de nos tornamos doadores está mais fortemente vinculado à falta de credibilidade nas intuições públicas do que `a falta de solidariedade para com aquele que se encontra em situação de vulnerabilidade. Isso dito, penso que cabe a cada um de nós fazer uma pesquisa minuciosa e uma reflexão profunda sobre o assunto, tendo em mente que doação de órgãos não é somente um ato de solidariedade ao próximo, mas também um ato de cidadania.

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