Vou-me embora pra Combu,
aquela pequena ilha do Pará,
donde se avista Belém
Arrodeada pelo Rio Guamá
e Furo do Benedito, também
Estou doida pra voltar
ver as mangueiras de lá
Viver uma vida despojada
sem tralhas para cuidar
Rede na varanda atada
vento fresco a circular
Lá não tem poluição
só verde pra alegrar a alma
Açaizeiros, balançando um tempão,
frondosos, nem precisamos regar
Peconha nos pés pra colher
Ano inteiro, açaí no copão saborear
Sumaúmas por toda a parte
coisa linda de se ver
Caminhar na floresta
Frutas nativas pegar no pé
— delícias do Norte
Peixes, tem de fartura
Rio pronto para pescaria
Tucunaré Filhote Pescada Amarela
sem usura
Sorte é Pirarucu na linha, Maria,
caldeirada com o pirão de farinha até cura
Casas de pau a pique, em palafitas
Águas grandes não vão submergi-las
Barro e madeira fazem-nas bonitas
taipas ecológicas para o calor amainar
A ilha brilha, enluarada
Deita na rede, comadre,
relaxa pra cochilar
Incontáveis estrelas, compadre,
nas noites mansas pra amar
Cansada da cidade, quero retornar
reencontrar o encanto das terras, serenidade
que há muito deixei pra lá
Sem papeis para cuidar, tranquilidade
Aqui não é permitido remexer
no teu amor, na rede, adormecido,
ou se estressar por papeis a preencher
Vou-me embora pra Combu
Levo um bom livro pra me entreter