Jornal DR1

Ars Gratia Artis: O vale das almas atormentadas

Imagem Gustavo Dore

Lena Mendes

Vinicius Zepeda

Existe um enorme castelo, ao Sul dos ermos vales perdidos, onde almas atormentadas, presas por pesados grilhões de ferro em seus pés, arrastam-se sobre um lastro fétido de sangue, morte e uma névoa de desespero. Contaram durante séculos que, de fora daquela imensa fortaleza, ouviam-se gritos de pavor e dor tenebrosos, e quem passava ali entrava em pânico e desespero. Alguns viajantes, sem fazer a menor ideia do que se encontrava perdido dentro do misterioso e aterrorizante reino, ao escolher caminhar acerca de todo aquele enigma, flertavam inconscientes com a morte.

Reza a lenda que ali acontecia toda sorte de perversão, luxúria, torturas e sexo para saciar caprichos. E foi quando a névoa cobriu aquele quarto tornando impossível enxergar um palmo à frente. Um forte cheiro de enxofre impregnou-se ali. Ele então apareceu e me falou:

– De que dor está falando? Daquela que infringiu as pessoas? Não estou entendendo. Porque vieste parar aqui? Nada mais que você não tenha merecido, disse.

Soerguendo-me lentamente, reuni forças para pedir clemência a um Deus que nunca acreditei nem imaginava acreditar, numa última súplica:

– Misericórdia, misericórdia, Senhor. Eu não fiz nada, clamei.

Ele respondeu:

– E porque parou aqui? Porque estaria perdendo meu tempo em me divertir com a sua dor, se sua dor nada mais é do que reflexo do que você fazia?

– É filho de um Deus que pregava o amor? Não é. É do lado obscuro dos seus sentimentos que me alimento. Nada mais fez na vida do que servir a mim. Onde está agora seu Messias que não te livrou dos pecados? Está pagando seus delitos. E é energia para minha alma. E por que não me divertir com sua dor? Você sempre quis o mal de quem te amava. Aqui será sua morada eterna, tendo a alma devorada pelo mal que causou aos outros. Nada vou te dar que não seja parte de tudo aquilo que plantou.

E em súplica, clamei aos céus olhando-o no olho:

– Eu estava perdido, culpa de uma doença que roubou minha humanidade. Daí eu roubei, matei, desrespeitei meu pai e mãe, e todos os mandamentos.

De repente, olhei para ele que me disse:

– E depois disso tudo, onde mais você estaria se não aqui?

Assim como surgiu do nada, ao nada ele retornou. Abri os olhos e enxerguei: o castelo estava dentro de mim.

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