O ano era 2011. No auge do carnaval, enquanto blocos fervilhavam nas ruas e salões se enchiam de confetes, Dona Filomena assistia tudo da varanda do residencial para idosos. Ouvia os ecos distantes das marchinhas e suspirava. Ah, como era bom pular carnaval no clube! Mas, aos 88 anos, seu corpo já não a acompanhava nos passos de outrora.
Sua filha, Romilda, conhecendo bem aquela nostalgia, teve uma ideia brilhante. Se Dona Filomena não podia ir ao carnaval, o carnaval viria até ela! E assim, naquela tarde, o grupo Serenata & Cia adentrou o residencial, trazendo alegria em forma de música.
Quando os primeiros acordes de Mamãe Eu Quero ecoaram pelo salão, os olhos de Dona Filomena brilharam como se o tempo tivesse dado um passo para trás. Ela ria, batia palmas e até arriscava um balancinho na cadeira. Os músicos, empolgados, seguiam com Cachaça Não É Água Não, Alá-la-ô e tantas outras favoritas dela.
Mas o que começou como uma homenagem se transformou em algo muito maior. Outros hóspedes do residencial foram se aproximando, atraídos pelo som e pela energia. Cada um tinha uma história para contar.
Seu Augusto, de 92 anos, lembrou-se do carnaval de 1947, quando conheceu sua falecida esposa. “Foi ao som de Ó Abre Alas que eu me apaixonei, ela era linda e fazia uma bacalhoada como ninguém”, disse, com um sorriso e um olhar perdido no tempo.
Dona Lourdes, de 85, confessou que, quando jovem, adorava sair escondida para dançar nos bailes. “Minha mãe achava que moça direita não pulava carnaval, mas eu pulava e muito! E não era direita kkkk era sim bem namoradeira. Se eu pudesse estaria até hoje pulando kkkk
E assim, entre uma música e outra, histórias eram compartilhadas, lágrimas discretas escorriam e gargalhadas enchiam o salão. Porque a vida, no fim das contas, é isso: uma grande marchinha, que mistura saudade e alegria, risos e despedidas, mas que sempre vale a pena cantar.
Quando a serenata terminou, Dona Filomena segurou a mão da filha e disse: “Romilda, minha menina, hoje eu pulei o carnaval sem sair do lugar.”
E naquele momento, ficou claro para todos ali: a juventude não mora no corpo, mas na alma de quem ainda dança ao som da própria história