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Associação Livre: Como o afeto nos afeta

A palavra afeto vem do substantivo latino affectus,us, que significa disposição, estar inclinado a. A raiz vem de afficere, que corresponde a afetar e significa fazer algo a alguém, influir sobre. Ou seja, o afeto pode ser entendido como a disposição de alguém por alguma coisa, seja positiva ou negativa.

É a partir do afeto, portanto, que construímos nossos laços, nosso campo relacional. É através dele, também, que nos é possibilitado instituir nossa subjetividade, uma vez que são as interrelações afetivas entre a criança, os pais e a cultura determinantes para a aquisição da dimensão espacial e relacional característica do desenvolvimento infantil, base para a vida adulta.

Para o psicanalista Wilson Klain, o afeto “nasce no corpo, parte do corpo e age sobre o corpo”. Em primeira instância, a criança depende do desejo e investimento materno e paterno, que asseguram sua existência pela via afetiva. Bebês e crianças necessitam que os seus cuidadores o acolham afetivamente, atendam às solicitações de ajuda e ofereçam conforto e encorajamento em suas vulnerabilidades. O contrário, a falta desse investimento afetivo, pode resultar em adultos inseguros e incapazes de estabelecer vínculos saudáveis.

No entanto, na atualidade, o individualismo exacerbado, o desenraizamento pessoal, a polarização do campo social são adventos que trouxeram aos sujeitos contemporâneos uma profusão de afetos, sentimentos e emoções intraduzíveis. Nesse sentido, os sofrimentos crescentes, além de apontarem para o mal-estar da cultura (FREUD, 1930), apontam para uma sensação de constante desamparo.

Na falta de vínculos pessoais e sociais significativos, somos acometidos por um sofrimento característico das formas de expressão da afetividade em nosso tempo. Provenientes da fragilidade dos laços e das difíceis relações interpessoais contemporâneas, somos atravessados, hoje, por uma miríade de afetos negativos como desamparo, medo, inseguranças que nos remetem a angústias primitivas.  Esses afetos desencadeiam não apenas sofrimentos psíquicos e emocionais, mas também defesas de cunho psicossocial, ações e reações contra o medo e o desamparo diante da vida em sociedade, que coloca o sujeito em uma espiral de repetições – recebendo e reproduzindo esses afetos negativos.

A busca por soluções possíveis tem inquietado diversos pensadores contemporâneos.  No entanto, dadas as vertiginosas transformações que atravessam nosso tempo, negar as consequentes mudanças que se impõe sobre as relações faz-se um movimento inútil. O que nos cabe, como um caminho possível e um movimento necessário e desejável, é impor um corte nesse circuito de afetos negativos – uma quebra na repetição – através de um constante investimento em afetos “positivos”, que busquem fortalecer nossos vínculos sociais e emocionais, base da nossa condição humana.

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