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A tênue linha entre autocracia e liberalismo

Todos sabemos, por definição, que autocracia designa um regime político de personalização do poder nas convicções e decisões do governante. O liberalismo, teoricamente, indo na contramão da autocracia, garante, em essência, a liberdade, os direitos e a igualdade individuais dos cidadãos, protegendo-os de qualquer abuso e opressão monocrática de poder. Mas o que acontece quando um grupo ou  uma classe social monopoliza a tomada de decisões e políticas públicas a seu favor?

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia (lê-se aqui: entre Rússia-China e o a Europa ocidental-EUA- Japão) abriu novas percepções para entender a diferença entre Estados em regime político autocrático institucionalmente em vigor e Estados institucionalmente democráticos, mas sob princípios autocráticos. Em ambos os casos, o capitalismo, seja de estado ou de conglomerados corporativos, estabelece o sistema de produção motor da economia. Em ambos os casos, a expansão de mercado, seja a partir de orientações de um líder autoritário ou a partir de uma burguesia ou elite imperialista, constitui diretriz básica na geopolítica de influência de poder, gerenciamento e domínio de territórios. Em ambos os casos, as ações de estratégias políticas e práticas ideológicas têm o intuito de assegurar a hegemonia cultural de blocos econômicos por meio da globalização. Em nenhum dos casos, no entanto, há práticas verdadeiramente simétricas na relação política e economia, o que favorece interesses e disputas em governos empresariais. Desse modo, percebe-se não somente que a lógica do mercado é preponderante, em todos os casos, mas também que os efeitos de tais relações contribuem, entre outras coisas, para o aprofundamento das desigualdades e para a concentração da riqueza, criando países centrais e periféricos.

Isso dito, é forçoso concluir que a nova configuração na distribuição de forças favorece uma tomada de posição de confronto. Não por acaso, o fenômeno da polarização de partidos e o surgimento de políticas extremistas têm ocorrido com tantos países. Entender o processo e não o refletir como um espelho em nossas práticas políticas e sociais já ajuda a minimizar seus efeitos danosos. Assim espero.

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