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Associação Livre: Saúde mental da comunidade LGBTQIA+ e as contribuições da psicanálise

Fonte : Pixabay

Discutir a saúde mental no Brasil ainda é um tabu, uma vez que o debate é extremamente estigmatizado e rodeado de preconceitos. Quando o assunto é a saúde mental da comunidade LGBTQIA+, os entraves são ainda maiores. 

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), um dos maiores estudos já realizados no país sobre a saúde mental da população brasileira, 50% dos jovens LGBTQIA+ sofre de ansiedade, depressão ou estresse pós-traumático. Violência, invalidação, falta de acolhimento da família, discriminação no ambiente de trabalho, disseminação de discursos homofóbicos nas mídias são alguns dos fatores preponderantes para o desenvolvimento dos transtornos mentais.

É espantoso que numa sociedade onde presenciamos tantos avanços, ainda tenhamos que pleitear respeito, igualdade e direitos elementares para pessoas que são inviabilizadas e violentadas por sua orientação sexual e/ou identidade de gênero. Embora alguns passos importantes tenham sido dados nesse sentido, ainda caminhamos claudicantes em direção a uma sociedade que garanta a integridade física, psíquica e emocional da comunidade LGBTQIA+.

A psicanálise, dessa forma, tem se antecipado no campo discursivo num esforço de desembaraçar as teias que recobrem a sexualidade. Ainda em 1935, em resposta a uma mãe que lhe pediu que curasse seu filho homossexual, Freud apontou ser “uma grande injustiça e também uma crueldade perseguir a homossexualidade como se esta fosse um delito”. Em sua teoria, Freud discorreu incansavelmente sobre a impossibilidade de educar a pulsão sexual, que segue os caminhos traçados pelo inconsciente, que é individual e singular.  Ou seja, a sexualidade é uma realidade subjetiva e tentar adequá-la, tolhi-la, rechaçá-la, inevitavelmente, resultará em sofrimento. 

As instâncias normatizadoras como as religiões e o Estado tentaram, durante séculos, estabelecer padrões em relação à sexualidade humana que, entretanto, sempre escapou e a toda e qualquer tentativa de normatização. Essas investidas, todavia, não deixaram de produzir efeitos nefastos, como o enraizamento do preconceito e as consequentes violências física e psicológica que sempre ameaçaram a existência LGBTQA+. Ao longo desse caminho, resistência e luta contra o preconceito e a discriminação, andam juntas com a constante ameaça do adoecimento psíquico; realidade que tem se agravado nos últimos tempos de forma alarmante e que exige mudanças efetivas no campo social e político.  

Engrossando o debate, a psicanálise apresenta-se como posição política ao afirmar que ao sujeito do desejo é o sujeito do direito. Com a descoberta da pluralidade sexual do ser humano e com exercício de uma práxis que contempla a alteridade do sujeito, a psicanálise fundamenta-se em uma ética orientada pela singularidade do desejo e postula que, na medida em que é uma variante da vida sexual, a escolha de objeto homossexual ou heterossexual, por exemplo, não é uma opção consciente do sujeito não podendo, dessa forma, ser forjada a algum tipo de ideal social.

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