Na quarta-feira (26), o comandante das forças armadas da Bolívia, José Zúñiga, levou militares às ruas na tentativa de derrubar as portas da presidência de Evo Morales e institucionalizar um novo governo. Sem o apoio da cúpula militar, sua tentativa de golpe fracassou, ficando apenas um lembrete de que as democracias na América Latina apresentam sinais claros de debilidade política.
Ser uma nação democrática traz em seu bojo a leveza de viver a cidadania no pleno exercício do direito de expressão de opinião e credo e de poder decisório na escolha de representantes políticos com eleições livres e diretas. No entanto, a vivência democrática apresenta seus desafios. Além do respaldo constitucional, há outros elementos dos bastidores institucionais que garantem sua robustez. De acordo com Levitsky e Ziblatt (2018), existem duas normas fundamentais para o funcionamento da democracia: tolerância mútua e reserva institucional. No primeiro caso, nossos rivais políticos devem ser aceitos e respeitados desde que joguem pelas regras institucionais. No segundo caso, é apropriado evitar ações que, ainda que respeitem a letra da lei, violem seu espírito. Tais regras não estão escritas, mas se mantêm de modo informal e protocolar em democracias mais fortalecidas. Isso não parece ocorrer na Bolívia.
A democracia é um regime político do povo e para o povo, para que este possa viver de acordo com sua vontade. Mas, para vivê-la em sua plenitude é necessário ter boa vontade, maturidade política e responsabilidade, assumindo, desse modo, o ônus e o bônus que ela nos traz.