Uma aguda crise institucional e econômica assola atualmente o Haiti, iniciada com o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021. Seu governo se encontra social e politicamente desestabilizado e em recessão há quatro anos. O atual primeiro-ministro, Ariel Henry, ainda que apoiado pela comunidade internacional, governa por decreto um país cuja economia agrícola há muito perdeu sua autonomia. As ondas de ataques de gangues com sequestros, execuções extrajudiciais e violência baseadas no gênero têm feito parte de seu cotidiano, forçando a população à fuga em massa.
Um Estado incapaz de garantir condições básicas de segurança e governança de bens públicos à população já não pode mais responder ao contrato social que historicamente se firmou entre os indivíduos e seus soberanos. Resulta daí um Estado que deveria proteger e garantir o bem-estar de seus cidadãos e fracassa. Vemos a falência institucional de um Estado, em parte, por conta de seu passado colonial e, em outra parte, por conta da intervenção internacional. Esta parece operar isenta de qualquer interesse que não seja aquele da agenda de luta de poder dentro geopolítica atual.
O legado de racismo e desigualdade (somente filhos de militares e da elite podiam ser educados), junto a programas que se esquivam no fortalecimento de políticas públicas em favor somente de iniciativas privadas, ajudam a contribuir com a situação de completa insolvência da cidadania no Haiti. Triste herança para aquele que foi o primeiro país da América Latina a conquistar a independência.