Jornal DR1

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Edições impressas

Preferências

Prefiro o vento frio do outono ao suadouro do verão. Prefiro os cães inofensivos e alegres aos ferozes e guardiães. Prefiro as casas pequeninas, pintadas de verde e roxo, com ladrilhos vermelhos aos condomínios luxuosos. Prefiro o cinema de antigamente onde havia poesia e não carros voadores explodindo no ar. Prefiro fotografias em preto e… Continue a ler Preferências

“SE”

Se na noite quente sentes a solidão rompendo tuas entranhas e a companhia de ti mesmo é o teu único destino enclausurado nas paredes mudas do quarto; Se queres livrar-te de todos os inimigos que te odeiam como pragas sussurrantes nos canaviais e dos amigos não tens outro desejo senão o dar de ombros, altivo… Continue a ler “SE”

O dia em que minha bombinha para asma pegou fogo

Meu primeiro emprego, quando eu tinha 16 anos, foi como cuidador de um casal de velhinhos num bairro próximo à minha casa. Às 8 em ponto, toquei a campainha e uma mulher magérrima, usando óculos de tartaruga me recebeu sorridente. – Fique à vontade, meu rapaz. Papai e mamãe estão no andar de cima e… Continue a ler O dia em que minha bombinha para asma pegou fogo

Palavras são como jujubas que a gente devora e não sente

Existem as palavras. Sim, existem as palavras que nos distinguem: cheiro de café pela manhã, estradas de terra ao final da tarde, frutas saborosas e coloridas à vista da criançada, perfume das árvores depois da chuva intensa, grama molhada, pássaros cor de cinza chumbo e de peito amarelo, o olhar que vê, que se alonga,… Continue a ler Palavras são como jujubas que a gente devora e não sente

A polícia do pensamento

O gigantesco prédio metalizado cor de chumbo estendia-se por quase um quarteirão e possuía nada menos que cinquenta metros de altura. Não havia uma janela sequer para deixar a luz do sol entrar e muito menos quaisquer indícios de ventilação natural. O arranha-céu era uma fortaleza inexpugnável construída a fim de não permitir a entrada… Continue a ler A polícia do pensamento

Delírios de um homem no post mortem

Penso ser universal a pergunta sobre o que nos acontece depois que morremos. Pois, muito bem! Finalmente vou esclarecer o mistério que obseda os seres humanos através dos milênios, bastando aos que me leem acompanhar minha viagem ao reino do Hades para concomitantemente, pressentirem suas próprias trajetórias no post mortem. “Então os céus azulados foram… Continue a ler Delírios de um homem no post mortem

A ciência da argumentação

Argumentar, antes de mais nada, é uma ciência. Isto significa dizer que para dominar amplamente esta fascinante capacidade cognitiva e emocional é necessário interiorizar uma plêiade de técnicas ou, se preferirem, uma ampla metodologia científica atinente à área. Neste pequeno espaço sublinharei os aspectos fundamentais da ciência da argumentação. 1) Clareza quanto ao assunto a… Continue a ler A ciência da argumentação

Um homem à frente de seu tempo

João Diamante era formado em Engenharia Elétrica e trabalhava numa multinacional americana com filiais no mundo todo, inclusive no Brasil. Talvez por causa desta base educacional predominantemente ligada aos cálculos, planilhas e estatísticas, era fascinado por tecnologia. Deslumbrava-se com todas as novidades advindas desta área do conhecimento e, inclusive na vida pessoal, podemos afirmar que… Continue a ler Um homem à frente de seu tempo

Marley e eu

A mãe do rapaz de dezessete anos já havia me procurado na semana anterior, mas não tinha me encontrado no escritório da universidade. Desta vez, pude atendê-la. – Como vai? – Tudo bem e o senhor? – Bem, vou direto ao assunto porque sei o quanto o professor é ocupado. O negócio é o seguinte:… Continue a ler Marley e eu

Sangre, professor!

O professor deu um passo em falso e precipitou-se escada abaixo. Estendido no chão e ainda ofegante pela queda, foi avistado por alunos que saíam naquele horário das aulas matinais. Sem que se saiba o motivo, o primeiro aluno vendo o professor ali caído, começou a chutá-lo furiosamente. Como num processo de violência mimética, os… Continue a ler Sangre, professor!